Dor
A dor é a segunda causa de internamento e o segundo sintoma mais frequente em doentes com Síndroma de Imunodeficiência Adquirida (SIDA). Todos os tipos de dor induzem sofrimento frequentemente intolerável, mas evitável, que se reflecte negativamente na qualidade de vida dos doentes. É possível, nos dias de hoje, aliviar o sofrimento dos doentes com dor crónica. Desde 2001, ano em que foi concebido o Plano Nacional de Luta Contra a Dor, que existem ou estão a ser criadas Unidades de Dor em hospitais de todo o país. Informe-se junto do seu médico. O controlo eficaz da dor é um direito dos doentes que dela padecem, um dever dos profissionais de saúde e um passo fundamental na efectiva humanização das unidades de saúde. A dor é um fenómeno complexo e com variantes multidimensionais (biofisiológicas, bioquímicas, psicossociais, comportamentais e morais). São inúmeras as causas que podem influenciar a existência e a intensidade da dor no decurso do tempo, a primeira das quais é a que se identifica como presumível resultado duma agressão ou lesão. A dor é um sintoma que acompanha, de forma transversal, a generalidade das situações patológicas que requerem cuidados de saúde. Independentemente da síndroma clínica que incorpora, a dor pode e deve ser tratada, com perspectivas de êxito proporcionais ao entendimento que dela temos e fazemos, à adequação e preparação científica dos serviços e profissionais de saúde envolvidos e ao manejo judicioso de todos os recursos, técnicos e humanos, disponíveis. Dor aguda - É a dor de início recente e de duração provavelmente limitada. Normalmente há uma definição temporal e/ou causal para a dor aguda. A dor peri-operatória – dor presente num doente cirúrgico, de qualquer idade, em regime de internamento ou ambulatório, causada por doença preexistente, devida à intervenção cirúrgica ou à conjugação de ambas – insere-se no conceito de dor aguda. Dor crónica - É uma dor prolongada no tempo, normalmente com difícil identificação temporal e/ou causal, que causa sofrimento, podendo manifestar-se com várias características e gerar diversos estádios patológicos. A actuação precoce na dor crónica pode evitar múltiplas intervenções e iatrogenias, promovendo mais facilmente o bem-estar do doente e o seu regresso a uma actividade produtiva normal. A dor crónica exige uma abordagem multidisciplinar e a falência do tratamento tem, entre outras, consequências fisiológicas adversas. A dor pode ser classificada de diversas formas. Classificação topográfica da dor Classificação fisiopatológica da dor Classificação temporal da dor O diagnóstico da dor é feito pelo médico, mas requer a ajuda do doente. Além das metodologias de avaliação da intensidade da dor, existem meios complementares de diagnóstico que permitem identificar possíveis causas da dor, como, por exemplo, exames radiológicos, electrofisiológicos e laboratoriais. Nem sempre a evidência clínica de uma lesão significa que esta cause dor. A não evidência de uma lesão não significa que a dor seja psicogénica. O médico avaliará a dor em função de diversos factores, como por exemplo: Sim. Para a mensuração da intensidade da dor existem escalas validadas a nível internacional, designadamente a Escala Visual Analógica (convertida em escala numérica para efeitos de registo), a Escala Numérica, a Escala Qualitativa ou a Escala de Faces. A avaliação da intensidade da dor pode efectuar-se com recurso a qualquer destas escalas. A intensidade da dor é sempre referida pelo doente, que tem de estar consciente e colaborar com o médico que está a fazer a avaliação. Se o doente não preencher aquelas condições, há outros métodos de avaliação específicos. A escala que for utilizada na primeira vez que é feita a avaliação deverá ser utilizada nas vezes seguintes. Sim, a dor crónica pode provocar incapacidade, embora seja difícil avaliá-la, uma vez que, frequentemente, não é objectivável através de exames complementares. O doente com dor crónica é multifacetado, com frequente morbilidade física e psíquica, podendo sofrer das mais variadas patologias, desde doenças reumáticas, neurológicas ou psiquiátricas, a doenças oncológicas. Apesar de frequentemente pouco valorizada, excepto tratando-se de doença oncológica, a dor crónica também afecta as crianças. Estima-se também que uma percentagem não negligenciável de pessoas idosas sofra de dor crónica. Isto porque a maioria dos idosos tende a encarar a dor como sendo normal na sua idade. A maioria dos doentes com doença oncológica avançada sofre de dor crónica, a qual pode ser aliviada na quase totalidade dos casos (cuidados paliativos). A dor é também a segunda maior causa de internamento e o segundo sintoma mais frequente em doentes com SIDA. A dor aguda e a dor crónica, pelas suas características, são tratadas de forma diferente. Contudo, é possível aliviar o sofrimento dos doentes com dor crónica, a quem é reconhecido o direito de serem tratados em Unidades de Dor. A terapêutica da dor divide-se em dois grandes grupos: a farmacologia (medicamentos) e a não farmacológica. Técnicas farmacológicas As técnicas farmacológicas mais conservadoras envolvem, fundamentalmente, a utilização de fármacos analgésicos e adjuvantes. Os analgésicos podem ser opióides (morfina, por exemplo, e codeína) e não opióides (os anti-inflamatórios não esteróides e os antipiréticos, como o paracetamol e o metamizol). Os fármacos adjuvantes, de enorme importância no controlo da dor crónica, são medicamentos que, não sendo verdadeiros analgésicos, contribuem para o alívio da dor, potenciando os analgésicos nos vários factores que podem agravar o quadro álgico. São exemplo, entre outros, os antidepressivos, os ansiolíticos, os anticonvulsivantes, os corticosteróides, os relaxantes musculares e os anti-histamínicos. Existem também métodos farmacológicos invasivos, que envolvem a utilização de anestésicos locais e agentes neurolíticos para a execução de bloqueios nervosos, com a intenção de provocar interrupção da transmissão dolorosa. São também considerados invasivos os métodos de administração de opióides, anestésicos locais e corticóides, por via espinhal. Finalmente, existem também técnicas neurocirúgicas, sendo as mais conhecidas as neurectomias, as rizotomias, as drezotomias, as simpaticectomias, as cordotomias, as mielotomias e algumas técnicas de neuroestimulação (algumas das quais realizadas por via percutânea). Técnicas não farmacológicas Compreendem, entre outras, a reeducação do doente, a estimulação eléctrica transcutânea, as técnicas de relaxamento e biofeedback, a abordagem cognitivo-comportamental, as psicoterapias psicodinâmicas, as estratégias de coping e de redução do stress, os tratamentos pela medicina física (fisioterapia) e o exercício físico activo e passivo. Podem também ser usadas técnicas de terapia ocupacional e técnicas de reorientação ocupacional e vocacional. Sim, é possível. A actuação e a intervenção dos profissionais de saúde que integram as equipas multidisciplinares são fundamentais nesta matéria, pois podem ensinar o doente a colaborar de forma esclarecida e adequada no controlo da dor. O ensino dos doentes abrange as áreas seguintes: Auto-avaliação da dor O doente deve estar capacitado para ter em conta: Formas de autocontrolo dos estímulos desencadeantes da dor e dos sintomas Medicação antiálgica Auto-controlo da dor Seja para diminuir a intensidade da dor ou o aumento da tolerância, as acções nesta área prendem-se, sobretudo, com o ensino de técnicas não farmacológicas de apoio, passíveis de serem realizadas pelo próprio doente. As técnicas de autocontrolo da dor podem ser de tipo comportamental e de tipo cognitivo. Os avanços da fisiopatologia, da farmacologia dos analgésicos e das ciências da saúde em geral permitem que seja possível aliviar, na grande maioria dos casos, a dor no período peri-operatório ou resultante de traumatismos. Normalmente, é definido, pelo médico anestesista, um plano integrado que abrange o tipo de cirurgia, a gravidade esperada de dor pós-operatória, as condições médicas subjacentes (como, por exemplo, a existência de doença respiratória ou cardíaca e alergias), a relação riscos/benefícios das técnicas disponíveis e as preferências e/ou experiências anteriores do doente relativamente à Dor. No caso da dor peri-operatória, a técnica de controlo mais eficaz é a analgesia, seja administrada por métodos convencionais ou não convencionais (como a PCA – analgesia controlada pelo doente -, ou a epidural - analgesia espinhal), conjugada com a utilização de fármacos como os opióides e os anti-inflamatórios.O que é a dor?
Como se classifica a dor?
Como diagnosticar a dor?
É possível medir a intensidade da dor?
A dor provoca incapacidade?
Como é que se caracteriza um doente com dor crónica? O que causa a dor crónica?
Como se trata a dor?
É possível a autoajuda no controlo da dor?
Como se trata a dor aguda, nomeadamente peri-operatória ou pós-traumática?