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O envelhecimento 2

O envelhecimento 2

O envelhecimento – Orgãos e sistemas

 

Categoria(s): Biogeriatria, Saúde Geriátrica

Envelhecimento

As modificações decorrentes da senescência

Colaboradora: Angela Terezinha de Favari Fornari *

* Nutricionista e pós-graduada do curso Saúde e Medicina Geriátrica da Metrocamp

O comprometimento dos diversos orgãos e sistemas pelo envelhecimento se dá de forma variada nas pessoas. Em alguns envelhece primeiro o sistema circulatório, em outros o sistema respiratório e assim por diante. Neste página abordaremos o comprometimento que ocorre em cada sistema da economia humana em decorrencia do envelhecimento.

Sistema locomotor

Diminuição da massa muscular

Uma das mais importantes alterações que ocorre com o aumento da idade cronológica é a diminuição da massa muscular esquelética, que pode decrescer de 45% aos 20 anos para 27% aos 70 anos. Essa perda gradativa é conhecida como sarcopenia, que indica a perda da massa, força e qualidade do músculo esquelético e que tem um impacto significante na saúde pública pelas suas conseqüências funcionais. A força muscular é a adaptação funcional que sempre acompanha os níveis de massa muscular, sendo importante no dia-a-dia de todas as pessoas para a realização das mais diversas tarefas, em especial no idoso, pois geralmente este é um sedentário que perdeu a aptidão física geral. A perda de força muscular é a principal responsável pela deterioração na mobilidade e na capacidade funcional do indivíduo que está envelhecendo (MATSUDO, MATSUDO e BARROS NETO, 2000).

Diminuição da massa óssea

As alterações ósseas são de particular importância devido às implicações clínico-epidemiológicas que podem ter. Há diminuição da atividade osteoblástica, diminuição da massa óssea, redução de resíduos corticais. Essas alterações podem ser devido a alterações no metabolismo ósseo, causas endócrinas, ingestão deficiente de cálcio, diminuição dos níveis de 25hidroxicolecalciferol, imprescindível para manter a integridade óssea, etc. (ESPÍNOLA, 2000).

Essas alterações aparecem principalmente nas mulheres, cujos ossos perdem cerca de 40% do cálcio no decorrer de sua vida, sendo que a metade disso se perde nos 5 primeiros anos após a menopausa e o restante após os 60 anos. A osteoporose ocorre tipicamente no quadril, fêmures e vértebras. Também pode ocorrer osteomalácia, que é uma deficiência da mineralização da matriz do osso cortical (longos) e trabecular, com acúmulo de tecido pouco mineralizado (PERIS e LESMES, 2007).

Envelhecimento da pele

O envelhecimento cutâneo é uma ocorrência biológica complexa. Como a pele é o órgão humano mais exposto às intempéries, os efeitos do envelhecimento são percebidos prematuramente. Influem no envelhecimento da pele: senescência celular, a hipótese telomérica, o estresse oxidativo, o fotoenvelhecimento, a alteração no conteúdo de água e a influência hormonal. Estudos mostram que a elastina, responsável pela elasticidade cutânea, perde a sua qualidade elástica com o avanço da idade. O colágeno também diminui com o passar do tempo. O motivo dessa transformação são as alterações decorrentes do envelhecimento intrínseco e extrínseco da pele (LINS, 2002).

O envelhecimento intrínseco ocorre devido ao desgaste natural do organismo, causado pelo passar dos anos, sem a interferência de agentes externos e equivale ao envelhecimento de todos os órgãos, inclusive a pele. No envelhecimento pela idade, a textura da pele é fina, lisa, homogênea e suave, com atrofia da epiderme e derme, menor número de manchas e discreta formação de rugas. O envelhecimento causado pela idade é mais suave, lento e gradual, causando danos estéticos muito pequenos. O envelhecimento extrínseco, ou fotoenvelhecimento é decorrente do efeito da radiação ultravioleta do sol sobre a pele durante toda a vida e apresenta-se como uma intensificação do envelhecimento cronológico e do aparecimento de características diferentes do envelhecimento comum (DERMATOLOGIA, 2008 online).

Orgãos dos sentidos: Visão e audição

Para a pessoa em idade avançada, a perda ou diminuição da visão pode ser uma conseqüência dramática do envelhecimento. As alterações visuais na idade avançada provocam a diminuição da reatividade pupilar, alterações na circunferência e rigidez do cristalino; freqüentemente aparecem cataratas. A córnea perde transparência e depósitos de gorduras produzem o “arco senil”.  Pode ocorrer glaucoma, aumento da pressão intra-ocular que reduz a visão periférica e compressão da retina. A degeneração da mácula, a área de visão central e onde a resolução visual é máxima, ocasiona um dano importante à visão do idoso. A órbita perde gordura e produz o efeito de olhos fundos. A presença de diabetes mellitus de longa evolução são a principal causa de cegueira nessa faixa etária (PRODIA, 2004).

Quanto à audição, a pele que cobre o conduto auditivo externo atrofia-se e sofre uma descamação, isso favorece a acumulação de cerume. Na orelha interna é produzida a denominada presbiacusia, ou seja, a pessoa percebe ruídos molestos (acúfenos), diminui a capacidade de discriminar os sons (ouve, mas não entende) e há uma perda na percepção dos sons agudos. Cerca de uma a cada três pessoas tem perda auditiva que interfere na vida diária nas pessoas que tem entre 65 a 74 anos e cerca da metade daquelas que têm 85 anos ou mais, sendo freqüentes os tampões de cera e a hipoacusia secundária (GEIS, 2003).

Sistema imunológico

Pacientes com mais de 65 anos de idade apresentam algumas alterações no sistema imunológico, porém o simples fato de ser idoso não o classifica como imunodeficiente, embora seja preciso valorizar esse fato quando diante de certas comorbidades, principalmente diabetes, insuficiência renal, cardíaca, respiratória, hepática ou infecções (DUARTE, 2003). A imunidade do idoso apresenta alterações que se traduzirão em efeitos clínicos mediados por sua resposta aos agentes infecciosos.

Sistema circulatório

Segundo Geis (2003), com o envelhecimento do aparelho circulatório ocorre uma diminuição da circulação de retorno do sangue venoso e uma insuficiência das válvulas venosas, o que pode acarretar em varizes e edemas. Pode ocorrer um acúmulo de substâncias no interior dos vasos, diminuindo o fluxo sanguíneo podendo causar insuficiência nos órgãos que são irrigados por esses vasos. No coração, com a idade há um aumento do miocárdio, por causa das exigências em conseqüência do aumento da resistência vascular. Há uma diminuição da capacidade de contração da musculatura cardíaca, ocorrem distúrbios elétricos com diferentes graus de bloqueio e de arritmia. As válvulas que comunicam as distintas cavidades cardíacas podem calcificar-se, produzindo estenose ou insuficiência valvular. Esses distúrbios formam o quadro denominado coração senil. Sua conseqüência primordial é uma diminuição na capacidade de trabalho cardíaco e, devido a isso, não se recomenda exercícios intensos para a terceira idade (GEIS,2003).
As alterações ocorridas no sistema cardiovascular afetam de maneira variável outros órgãos que dependem estreitamente desse sistema para seu funcionamento.

Sistema respiratório

Junto com o envelhecimento aparecem alterações anatômicas e funcionais do sistema respiratório. As cartilagens costais apresentam calcificações e a coluna apresenta cifose com aumento do diâmetro ântero-posterior do tórax, diminuindo a elasticidade da parede muscular. Ocorre uma diminuição dos números e dilatação dos alvéolos. há um menor fluxo de ar e uma menor adaptação respiratória ao esforço, o idoso, para conseguir o mesmo oxigênio, tem de fazer um trabalho respiratório maior. Essas mudanças afetam consideravelmente as atividades físicas que o idoso pode realizar (ESPINOLA 2000; GEIS, 2003).

Sistema renal e vias urinárias

Embora a grande reserva funcional dos órgãos não deixem perceber, os rins sofrem importantes alterações com o envelhecimento. Cerca de 50% dos nefrons desaparecem entre os 30 e 70 anos e a taxa de filtração glomerular decai 8ml/min a cada 10 anos. É provável que a diminuição do fluxo renal em torno de 10% por década nos adultos, a maior permeabilidade da membrana glomerular, a menor superfície disponível de filtração e o aumento do uso de nefrotóxicos em função da idade, expliquem a diminuição da função renal. As vias urinárias são afetadas por uma maior tendência a produção de cálculos. Nos homens pode ocorrer obstrução prostática pelo crescimento da glândula e nas mulheres o surgimento de incontinência urinária (ESPINOLA, 2000).

Sistema digestório

A nível do paladar, há uma diminuição da capacidade de perceber os sabores doces e salgados. Também a perda dentária dificulta o consumo de alguns alimentos, portanto, a OMS tem a meta de que os idosos possam conservar 20-22 dentes nessa etapa da vida. Cerca de 10% dos octogenários perdem a coordenação dos músculos esofágicos e a debilidade do diafragma torna mais freqüente a existência de hérnias hiatais (ESPINOLA, 2000). As alterações na mucosa gástrica e nas glândulas digestivas provocam diminuição da capacidade funcional digestiva. A menor flexibilidade do fundo gástrico leva à saciedade com menor quantidade de comida que no adulto. A diminuição da motilidade intestinal, a superfície intestinal útil para absorção, a capacidade de transporte de nutrientes e a redução do fluxo sanguíneo entre a célula mucosa e a veia porta, alteram a capacidade global de digestão e absorção. A significativa atrofia do músculo propulsor e as mudanças nas células secretoras de muco provocam alterações estruturais (diverticulose) e funcionais (estreitamento) do cólon (PALLAS, 2002).

Sistema nervoso

Entre os 45 e 85 anos, o peso do cérebro diminui cerca de 12%. Há também uma diminuição do número de neurônios tornando mais difícil a aprendizagem, sobretudo nos lóbulos frontais e temporais. Há uma diminuição dos reflexos e menor capacidade de memória. No cérebro, são observadas mudanças degenerativas que acarretam atrofia do córtex cerebral e dilatação ventricular. Também ocorre uma lentidão nas funções sensório-motoras. Há diminuição da síntese de catecolaminas, Peptídeo Intestinal Vasoativo-VIP e substância P; os receptores de catecolaminas, serotonina e opióides também tem redução. As mudanças nesses neurotransmissores e seus receptores não implicam, necessariamente, em alterações intelectuais e comportamentais, mas é o conjunto de alterações que os provocam (WEINECK, 2000; ESPINOLA, 2000).

 

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